A FEIRA
É sábado, amanhece o dia,
Chegam
primeiro os feirantes
Loroteiros, arrogantes
Arrumam as mercadorias.
Mais
tarde vem os feireiros
Sempre em grupos separados
Ainda desconfiados
Com as
sacolas vazias.
Grita logo um barraqueiro:
- “Olha
aqui feijão novinho
Tem enxofre e mulatinho
Tem o preto e o macaça
Esse
amarelinho é bom
O pintado é um azeite
Se quer levar aproveite
Que hoje é
quase de graça”.
Muitos trazem pra vender
Couro de
bode, algodão,
Batata, milho verde e feijão,
Porco, carneiro e peru,
Depois
que terminam as vendas
Se reúnem, vão beber,
As mulheres vão comer
Pé-de-moleque e angu.
Entra um rebanho no bar,
Lá já tem
outra patota,
Ali começa a lorota
Pois o prazer é profundo.
Tomam a primeira
dosagem
Logo após, outra bicada,
Com a terceira rodada,
Haja mentira no mundo.
Diz um, nunca me faltou
Dinheiro
pra brincar
Quando eu quero vadiar
Boto a sela no jumento.
Responde outro,
melado
Eu juro no evangelho
Que no meu cavalo velho
Derrubo até pensamento.
Grita um mais exaltado
Comigo não
tem ladeira
Eu topo toda zonzeira
Toda brincadeira é festa.
Grita outro, eu
também sou
Osso duro de roer
Quem quiser venha saber
Um velho pra quanto
presta.
A coisa está esquentando
Vai acabar
o zum-zum
Chega a mulher de um
Do outro chega a esposa
Com pouco o filho do outro
Chega pra dar o recado
- “Mamãe está no mercado
Vamos comprar qualquer coisa.
O vendedor de galinha
Fala alto,
“aqui freguês
Essa galinha pedrês
É pesada de gordura,
Esse pescoço pelado
É boa pra criar,
Eu garanto ela botar
Cem ovos numa postura.
Um galo velho surú
Pra cantar não
tem mais som
O vendedor diz “É bom!
Pode levar que é novinho.
Esse galo, meu
amigo,
Ainda tem outra coisa
Tem dado surra em raposa
Que ela perde o
caminho.
- “Olha a ovelhinha gorda”!
Gritam
lá na criação
Grita o do porco “O leitão
É novinho, cavalheiro”!
O velho que
está melado
Não presta muita atenção,
No porco compra barrão,
No bode, pai
de chiqueiro.
Na carne de gado mostram
Uma manta
do pescoço
- “Aqui é carne sem osso,
Compra boa, quem conhece”!
A carne
velha encardida
Como que foi de murrinha
Na panela não cozinha
Na brasa não
amolece.
Aquele que se entreteu
Na birita o
dia inteiro
Acabou todo o dinheiro
Passou o tempo e não viu
Ficou sem nenhum
tostão
No bolso da velha calça
O que sobrou da cachaça
O pife-pafe engoliu.
Arranja uma confusão
Quase ao
morrer do dia
Vai para a delegacia
Para um repouso forçado
Coitado, caiu à
crista.
De manhã faz a faxina
Inda vai dar entrevista
Com o doutor delegado.
AUTOR: Francisco agripino de Alcaniz - O popular Chico Traíra
- Grande violeiro, assuense de coração, nascido na comunidade de Pau do Jucá - Ipanguaçu/RN.
Ilustração: Autor: Aecio de Andrade Júnior
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