domingo, 30 de março de 2025

BODEGAS

BODEGAS
Foto Ilustrativa - https://luizberto.com/a-bodega/

Ivan Pinheiro
Em Assú, quase todos os bairros e comunidades rurais possuíam uma bodega – ponto comercial da localidade. O proprietário da bodega, geralmente era também dono de terras. Era o afortunado do lugar. No entanto, vendia mais fiado do que a vista. O bodegueiro na maioria das vezes também comprava cereais, algodão, couros de ovinos e caprinos. Era comum os habitantes do lugar venderem seus produtos e, ao mesmo tempo, com o dinheiro da venda, adquirirem as mercadorias que necessitavam para a manutenção da família. Em ano de seca, praticamente não havia compra de produtos agrícolas, por inexistência de safra.

As mercadorias para abastecer as Bodegas eram compradas na feira do Assú, em Mossoró ou no brejo da Paraibano. A farinha, o milho e o feijão eram vendidos em medidas feitas de madeira: meio litro, litro, meia cuia e cuia. A meia cuia equivalia a cinco litros, enquanto a cuia correspondia a dez litros. O querosene era vendido no varejo em litro, garrafa ou meia garrafa. Na bodega, havia um tambor ou uma lata com torneira, no qual se despejava, pela tampa superior, uma lata de querosene, para ser revendida na quantidade solicitada pelo freguês.

As farinhas em grosso bem como os garajais de rapaduras vinham do vizinho Estado da Paraíba. Até a década de setenta, no sertão, o consumo de rapadura era intenso. Esse produto era a sobremesa do sertanejo. Em certas famílias, a rapadura era utilizada em lugar do açúcar, por ser mais barata e, talvez, porque fosse mais apreciada que esse outro alimento. A pessoa, com o auxílio de uma faca, transformava a rapadura sólida em raspa para adoçar café, leite, coalhada e outros alimentos. Além disso, a rapadura era também utilizada para se fazer mel ou como ingrediente na fabricação de doces e cocadas. O mel da rapadura era muito apreciado com farinha.       

Na bodega, que eu lembre, de imediato, era vendido: farinha, rapadura, açúcar branco e preto, arroz da terra, fósforo, querosene, óleo em retalho, carne de jabá e geralmente no final de semana o bodegueiro matava um porco, salgava e passava a semana vendendo, inclusive o toicinho, que servia de óleo para fritar peixe, ovos e também ser colocado no feijão para dar o gosto.

Se fosse possível mostrar, através de um retrovisor do tempo a vida campestre de outrora, certamente nossos jovens não seriam tão exigentes.
Subsídios colhidos no livro Memórias Campestres - Ernandes da Cunha.

sábado, 1 de março de 2025

HISTÓRIA

Primeiros Nomes do Assú - PARTE II


Arraial de Santa Margarida 
O levante indígena contra os colonizadores tem maior intensidade com a rebelião denominada Guerra dos Bárbaros.
 Informa Taunay que Manoel de Abreu Soares, chegando à Ribeira do Assú, acampou num lugar chamado Olho D’água e depois em Poço Verde, onde construiu estacada (Atualmente, ainda subsistem esses topônimos, o primeiro no rio dos Cavalos e o outro na margem esquerda do rio Assú). Encontrou-se destruído, o arraial fundado pelo pessoal ligado a João Fernandes Vieira, “cujas casas os índios saquearam, tendo feito grande mortandade de gente e animais”. Depois de sepultados os ossos, encontrados ao relento, Manoel Soares seguiu na pista dos índios, que foram localizados em Mossoró onde tinham ido abastecer-se de sal. Travado intenso combate morreram dois homens da tropa, ficando um ferido, ocorrendo uma grande matança de índios, que se dispersaram.
Os remanescentes do grupo indígena refugiaram-se no seu valhacouto do Carrasco, de onde voltaram, incendiando o antigo arraial e atacando o fortim de Abreu Soares, dali distante uma légua.
Resolveu, então, Abreu Soares acampar em local distante seis léguas acima do arraial destruído, tendo iniciado a construção, à margem esquerda do rio Assú, de uma Casa-Forte para proteção das tropas contra as arremetidas dos tapuias.
Esclarece Santos Lima que os locais do Arraial e da Casa-Forte, ainda hoje são denominados pela população.
Naquela Casa-Forte, Abreu Soares permaneceu por quatro meses, sem que se verificassem ataques dos índios, tendo o mesmo regressado a Natal, ficando como substituto, no comando o Sargento-mor Manoel da Silva Vieira.
Na ausência do Capitão-mor Abreu Soares, os índios voltaram à carga, sendo repelidos pelo sargento-mor, ficando as tropas aquarteladas na casa-forte, porém sem condições de perseguir o inimigo. O capitão-mor regressou ao Assú, pelo início de 1687, e ali chegando perseguiu os selvagens durante 25 dias, desbaratando-os já no Ceará. Aprovisionou-se de alimentos retornando ao Assú numa longa viagem que durou três meses. (Índios do Assú e Seridó - Olavo de Medeiros Filho, 1984: 118).
De fato, para o colonizador, a guerra assumiu proporções perigosas e desastrosas. Uma carta do senado da Câmara de Natal, datada de 23 de fevereiro de 1687, dirigida ao Governador de Pernambuco, João da Cunha Souto Maior, dava conta que só no Assú os povos indígenas do grupo Tapuia:

“já tinham morto de cem pessoas, escalando os moradores, e destruindo os gados e lavouras, de modo que, já não eram eles os senhores daquelas paragens, que a fortaleza se achava sem guarnição, não dispunha de recursos necessários para acudir os pontos atacados.” (Pires, 2002; 67/78).

No dia 20 de julho de 1687 a região do Assú é denominada de ARRAIAL DE SANTA MARGARIDA. Em plena efervescência da Guerra dos Bárbaros, ou levante do Gentio Tapuia, o Capitão-Mor Manuel de Abreu Soares fundou o Arraial.
Acampou, nesta data, na fralda de uma colina arenosa, à margem esquerda de um braço do rio Assu, lugar onde se diz fora o principal alojamento dos índios, conhecidos por Taba-Assú, a cerca de 2 quilômetros da Casa-Forte pelo lado sul”. (Medeiros, 1984; 119).
A origem do nome do novo arraial, batizado com o nome de Santa Margarida, deu-se em decorrência de coincidir a data da chegada de Abreu Soares ao Assú, vindo do Ceará, com o dia em que era festejada aquela santa pelos católicos.   
O arraial começou a dar ares de desenvolvimento ao tempo em que continuavam os ataques dos selvagens. Foram feitos muitos sacrifícios de vidas e de haveres para a completa exterminação dos rebelados, passando, após a criação da freguesia (1726), a ser conhecido pela denominação de Povoação de São João Batista da Ribeira do AssúOs Janduís, apaziguados, foram aldeados no arraial com seus missionários. 

Fonte: Assu - Dos Janduís ao Sesquicentenário - Ivan Pinheiro.
Foto ilustrativa: históriarn.blogspot.com

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

HISTÓRIA

 Primeiros nomes do Assú - PARTE I

TABA-ASSÚ

Na visão do historiador Luiz da Câmara Cascudo “O nome popular, real, lógico é o Assú, valendo o rio condutor das atividades. Taba-Assú é uma imagem literária sem fundamento histórico”. 

Um dos primeiros relatos da existência de índios na região do Assú é feito por Ferreira Nobre. O historiador Nestor dos Santos Lima, no seu livro ‘Municípios do Rio Grande do Norte’, editado em 1937, cita Manuel Ferreira Nobre que em seu trabalho “Breve notícia sobre a Província do Rio Grande do Norte”, publicado em 1877, em Vitória-ES, afirma que: “... no ano de 1650, uma tribo de numerosos índios levantou os fundamentos da cidade, (do Assú), dando-lhe o nome de TABA-ASSÚ, que quer dizer Aldeia Grande”.

O Assú era povoado, por volta de em 1650, por numerosos íncolas selvagens, chamados Janduís, que formavam uma grande tribo, cujos acampamentos estendiam-se do Vale do Assú à ribeira do Mossoró.

Guerreiros. Cultivavam a força física da sua raça por meio de contínuos exercícios e treinamentos, correndo duas léguas a fio carregando grandes pesos às costas, realizando torneios de força e agilidade onde os vencedores recebiam em prêmio as mais lindas donzelas da tribo.

Toda a nação tomou o nome do grande chefe Janduí. Alimentavam-se de frutas, mel e raízes. Não tinham plantações. Não trabalhavam.

Era aqui (Assú) a sua grande aldeia ou taba, denominada ‘Taba-Assú’, que quer dizer ‘Aldeia Grande’. (Assú - Pedro Amorim, 1929; 03).    

        Conforme documentos pesquisados, quase sempre que se encontra algum documento com alusão ao nome da Taba, a grafia está separada com hífen, com dois esses e acento agudo no “U”. Há uma afirmação do mestre Câmara Cascudo que discorda da existência do elemento "Taba" na denominação Taba-Assú. Portanto, pelo que se foi estudado, nenhum outro historiador discorda deste fato. Sem polemizar, é coerente dar maiores créditos à maioria que defende a existência da palavra e da Aldeia Taba-Assú, de onde vem a origem da concepção primitiva do nome da povoação.

Fonte: Assú - Dos Janduís ao Sesquicentenário - Ivan Pinheiro.
Mapa ilustrativo: Wikipédia 

domingo, 8 de setembro de 2024

REMINISCÊNCIAS:


 
 
João Batista o meu abraço,
muito amigo, cordial,
Eu lhe envio neste dia,
Do seu ditoso natal.
 
O seu nome neste dia,
Muito relembra de certo,
João Batista, grande Santo,
O Pregador do deserto.
 
Que ele o Santo Profeta,
Que é da virtude o troféu,
Sobre você chova bênçãos,
Do seu trono, além do céu.

Seja bom, estudioso,
Deus de amor o acompanhe,
Seja na vida o conforto,
Da sua extremosa mãe.

Receba pois, amiguinho,
Meu sincero parabéns,
Lhe desejo mil venturas,
Pois lhe quero muito bem.

O seu prazer é bem justo,
Sua data é promissora,
E a Virgem do Rosário,
Zele o seu aniversário,
Pede à Deus a professora.


Sinhazinha Wanderley, 24/10/1942
Fonte: A saudosa Tereza Ferreira (filha do homenageado).

quarta-feira, 27 de março de 2024

POESIA

FACES SEM SORRISO

Menino qual o teu nome
Que tens uma angústia louca?
Foi o cabresto da fome
Que amordaçou minha boca,
Pois no meu nome senhor
Só há desespero e dor,
Tristeza e desolação,
O meu nome nada importa
Fico a soleira da porta
Pedindo a esmola de um pão.

E aquele rapaz, quem é
Que está ao pé do serrote?
É o meu irmão José
Que foi dar água ao garrote;
Chega José paciente,
Senta-se ao mesmo batente,
Vago olhar amortecido,
Na palidez do seu rosto
Tinha a força do desgosto
De um jovem desiludido.

O André chega também,
Antônio, Ambrózia e Tereza
Cada rosto uma tristeza,
Só alegria não vem
A pobre mãe numa rede
Embala o pé na parede
O filho mais pequenino,
Dois ou três meses de idade
Mais é na realidade
Vítima do mesmo destino.

Esse pequeno inocente
Sem brilho nos olhos seus
Sofre por culpa de Deus?
Não. Culpa dos homens somente,
Os homens sim, são culpados
Que aos filhos dos desgraçados
Lançam os grilhões da miséria
De Deus, não, a culpa é deles
Como se não fossem eles
Filhos da mesma matéria.

Autor: Francisco Agripino de Alcaniz - Chico Traíra.
Fonte: Espinhos e Flores da Minha Terra/1986.
Ilustração: Pintura de Bartolomé Esteban MURILLO - conhecida como "o jovem pedinte" (c. 1650).

segunda-feira, 25 de março de 2024

CAUSO

Meu cunhado Canindé Barbosa quando está bêbado só fala chiando. 

Certa vez, estávamos numa confraternização em família quando Ceiça sua irmã, já invocada com aquela chiadeira, disse: 

- Canindé, toda palavra você só fala chiando, não é? Pois eu duvido você pronunciar a palavra NÃO, chiando! 

Canindé, sem pensar duas vezes, arrematou: 

- Not

Livro: Dez Contos & Cem Causos - Ivan Pinheiro

Imagem Ilustrativa 

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

TROVA ASSUENSE

POBREZA

PObreza, mísera peça,
Soluços, prantos, ruína;
Té a palavra começa,
Por onde tudo termina.

Poeta: Luís de Macedo Filho