sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

TROVA ASSUENSE

POBREZA

PObreza, mísera peça,
Soluços, prantos, ruína;
Té a palavra começa,
Por onde tudo termina.

Poeta: Luís de Macedo Filho

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

REMINISCÊNCIAS

PERSONALIDADE ASSUENSE

OTAVIANO CABRAL RAPOSO DA CÂMARA nasceu a 15 de janeiro de 1819, na fazenda Arraial, de propriedade do seu avô, coronel Jerônimo Cabral de Oliveira, no município de Assu, hoje Carnaubais. Foram seus pais: o coronel Gabriel Soares Raposo da Câmara e dona Francisca Cabral de oliveira. Bacharel pela Faculdade de Direito de Olinda, em 1843. Chefiou o Partido “Nortista”, depois “Conservador”, em cuja agremiação política teve destacada influência, chegando a exercer o cargo de Deputado Provincial em seis legislaturas: 1852-1853, 1860-1861, 1862-1863, 1864-1865, 1866-1867 e 1870-1871.
Otaviano Cabral representou, também, o Rio Grande do Norte, na Câmara Temporária ou Assembleia Geral do Império (o cargo atual de Deputado Federal) nas legislaturas de: 1853-1856 e 1869-1872, sendo que esta última, por decreto de 18 de julho de 1872, foi dissolvida.
Na qualidade de 1º Vice-presidente da Província do RN, nomeação de 02 de julho de 1853, assumiu o Governo de 19 de maio a 18 de junho de 1858, e, com a mesma nomeação como 3º Vice-presidente, governou de 17 de fevereiro a 22 de março de 1870.
Otaviano fez parte de uma delegação da Câmara Municipal de Natal, em 1869, para cumprimentar Sua Majestade o Imperador à sua chegada em Recife. Advogado e tribuno político, a sua atuação foi notável, exercendo, também, destacado relevo no jornalismo provinciano. Ligado aos seus irmãos Jerônimo, Gabriel e Leocádio, “Os Cabrais”, como era chamado o grupo Saquaresma, formava uma arregimentada corrente política com acentuada preponderância nos destinos administrativos do Estado.
Foi Procurador Fiscal da Tesouraria Provincial, de 31 de agosto de 1870 a 15 de junho de 1872 e exerceu, também, o cargo de Inspetor da Tesouraria quando, a seu pedido, foi exonerado.
Homem de espírito culto e progressista, Otaviano Cabral fundou, em parceria com outros, em 1854, em Natal, a Sociedade Teatral Apolo Rio-Grandense. Por sugestão do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, no ano de 1930, a Prefeitura Municipal do Natal, em louvor aos seus méritos, ligou seu nome a uma rua.
OTAVIANO CABRAL RAPOSO DA CÂMARA faleceu, no município de Bonito, no estado de Pernambuco, no ano de 1872.
Como foi possível observar, mostramos mais um assuense que chegou ao topo da governabilidade estadual, ou seja, foi Governador do Rio Grande do Norte, na época em que era Província.
   
Fonte: Titulados do Assu - Francisco Amorim

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

HISTÓRIA

MERCADO DO ASSU

Uma Casa de Mercado
Mercado Público (à direita) - Provavelmente anos vinte (a Praça foi construída em 1932) 
Pesquisando os alfarrábios da história do povo assuense, encontramos que: No ano de 1875, foi construído o primeiro mercado do Assu o qual abriu suas portas no ano de 1876. O construtor do primeiro Mercado do Assu foi o cidadão assuense Dr. Luiz Carlos Lins Wanderley o qual vendo a necessidade da cidade se desenvolver comercialmente, edificou, as suas custas, por meio de contrato, com cláusula de usufruto por vinte anos, o que chamavam de “Uma Casa de Mercado”. Essa construção custou-lhe uma cadeira de deputado provincial. 

Mercado Público (ao fundo) - Provavelmente anos 30.
O tempo passou e pequenas reformas ocorreram no prédio que foi ficando pequeno para a demanda do comércio do Assu – cidade pólo da região do Vale.

Novas Instalações

Buscando suprir estas necessidades o então Prefeito Manoel Pessoa Montenegro resolveu demolir a antiga "Casa de Mercado" e construiu, no mesmo local, com o apoio do Interventor Federal (na época, o mesmo que Governador do Estado) um moderno prédio para servir de Mercado Público Municipal com condições físicas de atender a demanda comercial da cidade.
Mercado Público - Instalação mais modernas - foto provavelmente anos 70/80.
A inauguração deu-se no dia 19 de abril de 1943, cuja solenidade contou com a presença do Interventor Federal Dr. Rafael Fernandes Gurjão. 

O Patrono

Após o falecimento de Manoelzinho Montenegro, num gesto de reconhecimento, o seu nome foi escolhido como patrono, passando este logradouro a ser denominado de: Mercado Público Municipal Prefeito Manoel Pessoa Montenegro. 
Prefeito Manoel Pessoa Montenegro
Manoel Montenegro nasceu em Assu no dia 28 de fevereiro de 1892. Foi proprietário de terras, Farmacêutico e Político. Foi prefeito do Assu por 12 anos, no período de 1936 a 1948. Primeiramente nomeado pelo Presidente Getúlio Vargas e depois eleito pelo voto popular. Faleceu no dia 12 de agosto de 1967 em Natal. 

Reformas

Após a reconstrução do Mercado (1943) inúmeras benfeitorias foram desenvolvidas neste logradouro pelos administradores municipais. Destacamos as mais significativas reformas executadas nas gestões dos prefeitos: Arcelino Costa Leitão, Walter de Sá Leitão, Sebastião Alves Martins e Ronaldo Soares no seu primeiro mandato.

No entanto, a maior reforma ocorreu no ano de 2007 quando o Mercado Público Municipal Manoel Pessoa Montenegro foi totalmente reformado e dotado de infra-estrutura para comercialização de frios. Ou seja: carne bovina, suína, caprina, vísceras, frangos e peixes expostos em box’s devidamente higienizados e fiscalizados (à época da inauguração).

Inauguração

No dia 05 de maio de 2007 a Prefeitura Municipal do Assu, através do então Prefeito Ronaldo da Fonseca Soares, entregou à população assuense as novas instalações do Mercado Público. A solenidade de inauguração ocorreu às 9 horas com a presença de diversas autoridades, entre elas o Presidente da Câmara dos Vereadores Odelmo de Moura Rodrigues, vereadores: Carlos Alberto da Costa Bezerra, Heliomar Cortez Alves, Leosvaldo Paiva de Araújo, João Brito, João Lourenço, Manoel Targino e Francisco Lavoisier. Diversas outras instituições se fizeram presentes, entre estas: Prefeitura Municipal de Ipanguaçu na pessoa do prefeito José de Deus Barbosa FilhoSEBRAE IBAMA. Também se fizeram presentes Gerentes, Secretários, Diretores e Chefes de Sessões da Prefeitura do Assu, comerciantes do mercado, feirantes e um grande numero de populares.

Mercado Público -  Abril de 2007 - Antes da Inauguração
Infraestrutura 

A ampla reforma realizada pela Prefeitura do Assu (com recursos próprios) trouxe de volta (à época) a perspectiva de bons negócios para o comércio local. O Mercado Público teve toda estrutura hidráulica e elétrica recuperada (com moderna iluminação), substituição do piso (externo e interno), reestruturação da fachada, instalação de sanitários adaptados para deficientes físicos, construção de 70 boxes para acomodação dos comerciantes individualizados, uma sala de desosso além de uma ampla Câmara frigorífica para conservação dos produtos.
Mercado Público - foto mais recente
À época, a obra contemplou o anseio da população no que concerne a qualidade dos gêneros comercializados. O Mercado veio complementar os serviços executados no moderno Matadouro Público Prefeito Sebastião Alves Martins - reconstruído, neste mesmo período, para atender aos padrões de higienização e qualidade total dos produtos.

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

LIBERDADE


LIBERTAÇÃO DE ESCRAVOS EM ASSU

No dia 18 de outubro de 1879 – Aconteceu em Assu a Libertação de 04 escravos – No livro de Notas nº 19, do Fórum do Assú, esta registrada a quatro cartas de liberdade dos escravos: Felicidade, Thomaz, José e Maria, de propriedade de Trajano Lopes de Souza e de sua mulher Aldonça Maria da Conceição. No presente caso, eles poderão gozar de sua liberdade, como se de ventre livre tivessem nascido, segundo expressaram seus proprietários ao professor Elias Antonio Ferreira Souto, a quem pediram para passar as cartas.

“Nós abaixo assignados declaramos que de nossa livre vontade e sem constrangimento algum, concedemos a liberdade, sem ônus de qualquer natureza, a nossa escrava Felicidade, parda, de quarenta e oito anos de idade, matriculada no município de Santana do Mattos, sob os número 401 d’ordem da matrícula geral, 5 de ordem da relação e 136 da relação, podendo a dita escrava gozar de sua liberdade de hoje em diante como se de ventre livre tivesse nascido. Em firmeza do que pedimos ao Professor Elias Antônio Ferreira Souto esta por nós passasse, em que ambos assignamos, perante as testemunhas João Antonio de Faria e Alexandre Rodrigues de Mello. Cidade do Assú 18 de outubro de 1879. Trajano Lopes de Souza Aldonça Maria da Conceição residentes no município do Assú/RN”.

O teor das quatro cartas é o mesmo, mudando apenas a especificação do escravo:

“... O nosso escravo Thomaz, pardo, de dezoito annos de idade, filho de nossa escrava Felicidade, cujo escravo foi matriculado no município de Santana do Mattos, sob os números 400 da matricula geral, 4 de ordem da Relação e 136 da Relação apresentada”.

“... O nosso escravo José, pardo, de dezenove annos de idade, filho da nossa escrava Felicidade, matriculado no município de Santana do Mattos, sob os números 399 da matrícula geral, 3 de ordem da Relação e 136 da Relação apresentada”.

“... A nossa escrava Maria, parda, de quinze annos de idade, filha de nossa escrava Felicidade, cuja escrava Maria foi matriculada no município de Santana do Mattos, sob os números 402 da matricula geral, 6 de ordem da Relação e 136 da Relação apresentada”. (Fonte: Livro de Notas do Fórum do Assú).
No dia 18 de outubro de 1879 – Aconteceu em Assu a Libertação de 04 escravos – No livro de Notas nº 19, do Fórum do Assú, esta registrada a quatro cartas de liberdade dos escravos: Felicidade, Thomaz, José e Maria, de propriedade de Trajano Lopes de Souza e de sua mulher Aldonça Maria da Conceição. No presente caso, eles poderão gozar de sua liberdade, como se de ventre livre tivessem nascido, segundo expressaram seus proprietários ao professor Elias Antonio Ferreira Souto, a quem pediram para passar as cartas.

“Nós abaixo assignados declaramos que de nossa livre vontade e sem constrangimento algum, concedemos a liberdade, sem ônus de qualquer natureza, a nossa escrava Felicidade, parda, de quarenta e oito anos de idade, matriculada no município de Santana do Mattos, sob os número 401 d’ordem da matrícula geral, 5 de ordem da relação e 136 da relação, podendo a dita escrava gozar de sua liberdade de hoje em diante como se de ventre livre tivesse nascido. Em firmeza do que pedimos ao Professor Elias Antônio Ferreira Souto esta por nós passasse, em que ambos assignamos, perante as testemunhas João Antonio de Faria e Alexandre Rodrigues de Mello. Cidade do Assú 18 de outubro de 1879. Trajano Lopes de Souza Aldonça Maria da Conceição residentes no município do Assú/RN”.

O teor das quatro cartas é o mesmo, mudando apenas a especificação do escravo:

“... O nosso escravo Thomaz, pardo, de dezoito annos de idade, filho de nossa escrava Felicidade, cujo escravo foi matriculado no município de Santana do Mattos, sob os números 400 da matricula geral, 4 de ordem da Relação e 136 da Relação apresentada”.

“... O nosso escravo José, pardo, de dezenove annos de idade, filho da nossa escrava Felicidade, matriculado no município de Santana do Mattos, sob os números 399 da matrícula geral, 3 de ordem da Relação e 136 da Relação apresentada”.

“... A nossa escrava Maria, parda, de quinze annos de idade, filha de nossa escrava Felicidade, cuja escrava Maria foi matriculada no município de Santana do Mattos, sob os números 402 da matricula geral, 6 de ordem da Relação e 136 da Relação apresentada”. 
(Fonte: Livro de Notas do Fórum do Assú).

sábado, 15 de abril de 2023

REMINISCÊNCIAS:

PADARIA SANTA CRUZ - ASSU

A PADARIA SANTA CRUZ fabricava os seguintes produtos: 

BOLACHAS:
Melindrosa, Flor do Assú, Japonesa, De Banha e Regalia-Vitória.

BISCOITOS:
Salineiro, Fino, Melindre, Tareco e XPTO.

PÃES:
Francês, Massa Fina, Doce e Cetim.

Muito interessante era o anuncio da PADARIA SANTA CRUZ.

O ABECÊ DAS DONAS DE CASA
ASSU possui a melhor a melhor padaria do Estado - A PADARIA SANTA CRUZ.
B
BOLACHAS,  bolachinhas e biscoitos do mais fino paladar! são os da PADARIA SANTA CRUZ.
C
CADA freguês é um propagandista espontâneo dos saborosos produtos da PADARIA SANTA CRUZ.
D
DELICIOSAS e preferidas são as massas da PADARIA SANTA CRUZ.   
E
ETELVINO Caldas foi, em 1907 o fundador da PADARIA SANTA CRUZ.
F
FAMA não corre, voa! É por isso que já está tão longe o renome da PADARIA SANTA CRUZ.
G
GOSTO apurado tem todo aquele que prefere os biscoitos e bolachas da PADARIA SANTA CRUZ.
H
HURRA! Gritam os garotos de outras terras, em volta da mesa familiar, quando lhe apresentam biscoitos da PADARIA SANTA CRUZ.
I
INGLESA era antigamente a manufatura dos biscoitos "cracknell" mas, hoje eles são fabricados caprichosamente na PADARIA SANTA CRUZ.
J
JUSTIÇA faz todo aquele que reconhece a superioridade do pão da PADARIA SANTA CRUZ.
L
LANCHE bom, só se faz tendo à mesa os famosos biscoitos da inimitável PADARIA SANTA CRUZ.
M
"MIMOSA" é a bolachinha que os médicos atestam ser, própria para os convalescentes, e é um produto exclusivo da PADARIA SANTA CRUZ.
N
NATAL, a capital do nosso Estado também importa os deliciosos biscoitos da PADARIA SANTA CRUZ.
O
ÓTIMOS e por isso mesmo, sempre preferidos, são os produtos da PADARIA SANTA CRUZ.
P
PANIFICADORA é o endereço telegráfico da PADARIA SANTA CRUZ.
Q
QUANDO viajantes querem ser recebidos festivamente em sua casa, faz de passagem por Assu um bom sortimento de massas da PADARIA SANTA CRUZ.
R
"REGALIA" é o nome de uma bolachinha muito apreciada que só se encontra na PADARIA SANTA CRUZ.
S
SOLON Wanderley é hoje continuador de Etelvino Caldas e, tem aperfeiçoado sempre os métodos de fabricação da PADARIA SANTA CRUZ.
T
TODO mundo diz, em alto e bom som, que não há igual à PADARIA SANTA CRUZ.
U
UNIDOS pelo mesmo ideal de bem servir o público, e demonstrar os seus conhecimentos , como exímios panificadores - trabalham os mestres e operários da PADARIA SANTA CRUZ.
V
"VITÓRIA" é uma bolachinha que tem a fama que merece e é uma criação do proprietário da PADARIA SANTA CRUZ.
X
"X.P.T.O" é um bom biscoito para lá de bom que só se encontra na PADARIA SANTA CRUZ.
Z
ZELO, agrado e sinceridade, é lema que torna vitoriosa em toda linha PADARIA SANTA CRUZ.

Fonte: Lembranças e Tradições do Assu - Maria Eugênia - FJA - 1978.
Fotografia: Demóstenes Amorim - Solon, Afonso e funcionários da Padaria Santa Cruz (arquivo de Ivan Pinheiro). 

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

POESIA

A FEIRA

Feira de louças de barro - anos 70, no Assú

Feira Livre no Assu - foto Jean Lopes











É sábado, amanhece o dia
Chegam primeiro os feirantes
Loroteiros, arrogantes
Arrumam as mercadorias.
Mais tarde vem os feireiros
Sempre em grupos separados
Ainda desconfiados
Com as sacolas vazias.

Grita logo um barraqueiro:
“- Olha aqui feijão novinho
Tem enxofre e mulatinho
Tem o preto e o macaça
Esse amarelinho é bom
O pintado é um azeite
Se quer levar aproveite
Que hoje é quase de graça”.

Muitos trazem pra vender
Couro de bode, algodão,
Batata, milho verde e feijão,
Porco, carneiro e peru,
Depois que terminam as vendas
Se reúnem, vão beber,
As mulheres vão comer
Pé-de-moleque e angu.

Entra um rebanho no bar,
Lá já tem outra patota,
Ali começa a lorota
Pois o prazer é profundo.
Tomam a primeira dosagem
Logo após, outra bicada,
Com a terceira rodada,
Haja mentira no mundo.

Diz um, nunca me faltou
Dinheiro pra brincar
Quando eu quero vadiar
Boto a sela no jumento.
Responde outro, melado
Eu juro no evangelho
Que no meu cavalo velho
Derrubo até pensamento.

Grita um mais exaltado
Comigo não tem ladeira
Eu topo toda zonzeira
Toda brincadeira é festa.
Grita outro, eu também sou
Osso duro de roer
Quem quiser venha saber
Um velho pra quanto presta.

A coisa está esquentando
Vai acabar o zum-zum
Chega a mulher de um
Do outro chega a esposa
Com pouco o filho do outro
Chega pra dar o recado
“- Mamãe está no mercado
Vamos comprar qualquer coisa".

O vendedor de galinha
Fala alto, “aqui freguês
Essa galinha pedrês
É pesada de gordura,
Esse pescoço pelado
É boa pra criar,
Eu garanto ela botar
Cem ovos numa postura.

Um galo velho surú
Pra cantar não tem mais som
O vendedor diz “É bom!
Pode levar que é novinho.
Esse galo, meu amigo,
Ainda tem outra coisa
Tem dado surra em raposa
Que ela perde o caminho.

“- Olha a ovelhinha gorda!”
Gritam lá na criação
Grita o do porco “O leitão
É novinho, cavalheiro”!
O velho que está melado
Não presta muita atenção,
No porco compra barrão;
No bode, pai de chiqueiro.

Na carne de gado mostram
Uma manta do pescoço
“- Aqui é carne sem osso,
Compra boa, quem conhece!”
A carne velha encardida
Como que foi de murrinha
Na panela não cozinha
Na brasa não amolece.

Aquele que se entreteu
Na birita o dia inteiro
Acabou todo o dinheiro
Passou o tempo e não viu
Ficou sem nenhum tostão
No bolso da velha calça
O que sobrou da cachaça
O pife-pafe engoliu.

Arranja uma confusão
Quase ao morrer do dia
Vai para a delegacia
Para um repouso forçado
Coitado, caiu à crista.
De manhã faz a faxina
Inda vai dar entrevista
Com o doutor delegado.
Chico Traíra
Do poeta Francisco Agripino de Alcaniz, o popular Chico Traíra – grande violeiro, assuense de coração, nascido no sítio Pau de Jucá – Ipanguaçu/RN. Em Assu existe uma rua,  no Bairro Frutilândia, que tem Chico Traíra como patrono.  

quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

LITERATURA DE CORDEL

RENATO CALDAS,
O POETA DE ‘FULÔ DO MATO’
Vou falar de um conterrâneo
Que nos bancos de escola
Jamais esquentou o crânio.
Foi um menino pachola,
Um rapaz namorador,
Poeta véi cantador
Fez da viola uma estola.


 — “Eu era desempenado,
No braço do violão.
Fazia um tarrabufado
Da prima para o bordão.
E naquele remelexo
A nega caia o queixo,
E eu entrava de cão”.


Falo de Renato Caldas
Um matuto sertanejo,
Que mal trocou suas fraldas
Começou a ser andejo,
Fez a primeira poesia
Inspirado em fantasia
Pelo seu maior desejo:


— “Nenhuma mulher é troço...
Brancas ou pretas são belas!
Lamento porque não posso
Ser dono de todas elas”...
Com quatorze anos apenas,
Em Assu — a velha “Atenas
Defendeu todas donzelas.


Mil novecentos e dois,
Oito de outubro nasceu,
Quatorze anos depois
O verso lhe floresceu
E a partir daquele dia
Numa linda melodia
Renato Caldas cresceu.


Do seu chão fez a canção:
— “Só norte-rio-grandense
Meu patrão, sou assuense
De alma, vida e coração
Pois, nessa terra bonita,
Eu tive a sorte bendita
De vê a luz, meu patrão”...


E haja inspirações:
— “Meu Assu das vaquejadas!
Das noites enluaradas...
— Que gratas recordações! —
Cantigas feitas dos sonhos
Dos seresteiros risonhos,
Conquistando corações...”.


Fulô do Mato surgiu
Carimbando sua lavra,
Logo a fama lhe exigiu
Buscar o dom da palavra,
No martelo e no rojão,
Foi um cantor do sertão
Que todo tema rimava.


— “Cunheço o Brasí, todinho:
Agreste, mata e sertão.
Arrastei pelos caminho
Muita alegria e afrição!
Eu tive a filicidade
De quage in toda cidade
Causá admiração...".


Apesar destas andanças
Em busca do ganha-pão,
Não perdeu as alianças.
Depois de doze serão
Casou com a amada Fausta
Que estava quase exausta,
Devido aquele tempão.


Veja o qui pôde sintí
Quando arribou do Assu:
— “... Mais o sertão não é Brasí.
O Brasí, é lá pru sú.
Isso aqui é um purgatóro...
Quem mata a fome, é o sodóro
E a sede é o mandacaru...”.


— “Seu môço, eu venho de longe,
Do árto do meu sertão,
Trago fome, trago sêde
E tudo qui é precizão.
Mas, nada disso me mata,
Nada disso me matrata
Qui nem a rescordação...”.


Teve muitas profissões:
Pracista, linotipista,
Embolador de canções,
Oficial e motorista...
Mas, na viola e na poesia,
Instrumentos da boemia,
Foi que surgiu o artista:


— “A lua vinha cantando,
Suas canção pratiada!
Parô tão disfigurada...
Ficô oiando pru Má
E o Má sortando um gemido,
Limpô os óio no vistido
Prateado de luá”.


Fez ao irmão de coração:
— “Adão foi feito de barro...
Mas, você, Newton Navarro,
Foi Feito da inspiração,
Do Céu, dos ninhos, das flores,
De todos os esplendores
Do luar do meu sertão”.


A mulherada foi o tema
De parte da criação.
Foi liberdade e algema,
Prazer e judiação,
Foi seu encanto, seu feitiço,
Foi fulô, foi reboliço...
Derreteu seu coração.


Sobre elas disse inté:
— “Sinhá Dona, o tempo passa,
Mais, porém, essa disgraça,
Qui a gente tem, pruque qué...
Êsse amô, êsse arrespeito,
Qui o cristão guarda nos peito,
Essa paixão pru muié...”.


Geíza Caldas, a filha,
Pelo casal muito amada,
Foi a maior maravilha
Por todos foi bem mimada.
Ela até hoje se alembra
E vez por outra relembra
Contando pra garotada.


Em plena felicidade
Quando uma lágrima caiu
Seu coração explodiu:
— “Casou Geíza, é verdade
Vai construir o seu lar.
Danado é essa saudade
Qu’Ela vai deixar ficar”.


Certa vez indo à Natal
No bar pegou uma colher
E, por um lapso mental,
Não devolveu à mulher.
Ao retornar da viagem
Trouxe na sua bagagem,
Com um bilhete o talher:


— “Estou voltando Chiquinha
Trazendo a sua colher
De coisas que não é minha
Eu só aceito mulher”.
Recitou no bar lotado,
Ficou logo liberado
Para um acaso qualquer.


Não foi um homem de escola,
No entanto a inteligência
Que teve em sua cachola,
Era amiga da decência,
Amava a honestidade,
Detestava falsidade
E tocava na cadência.


E sobre o tema convém:
— “Seu dotô, pode me crê:
Se tenho aprendido a lê,
Eu era dotô tombém.
Pruquê hoje na cidade,
Nós só temo validade
Pêla peda qui o ané tem...”.


— “Um violão de verdade,
Uma grade de Pitu
Para matar a saudade
Das moreninhas do Assu”.
Assim levou sua vida
Procurando uma guarida
Pra ganhar algum tutu.


Toda farra que chegava
Tava a festa iniciada,
A viola apresentava
E, após uma lapada,
Causos, poesias, repente...
Mexia com toda gente
Com sua rima cantada.


Sempre comprou lá na feira
Seus principais mantimentos,
Mas uma feirante arteira
Desafiou seus talentos:
— Poeta, lhe tenho estima,
Me ajude e faça uma rima
Pra vender meus alimentos.  


Renato olhou pra esteira
Contemplando sua batata

E, num tom de brincadeira,
Fitando aquela mulata,
Tão bonita e adolescente,
De maneira pertinente
Usou a verve gaiata:


— “Batata rainha prata
É dessa que o povo gosta,
Um quilo dessa batata
Dá bem dez quilos de bosta”.
A cabocla não gostou,
Ele dela se afastou,
Mas “atendeu” a proposta.


Trabalhou na construção
Da estrada Assu/Mossoró,
Fez pra si um barracão,
Vendeu comida e goró,
Mas devido o tal fiado
No balcão pôs um recado
Para evitar um toró:


— “Para não haver transtorno
Aqui no meu barracão,
Só vendo fiado a corno,
Filho da puta e ladrão”...
Leitor, pode acreditar,
O apelo fez aumentar
A lista de espertalhão.


— “Renato Caldas já foi
Um boêmio seresteiro!!!
Hoje é carro de boi
Na sombra do juazeiro”...
Morreu quase sem visão,
Com artrite, hipertensão,
Famoso..., mas sem dinheiro.


Termino esse meu tributo
Com muita satisfação,
Nobre leitor impoluto
Sou grato pela atenção.
Deixo aqui meu forte abraço
Me perdoe pelo embaraço
Mas fiz com o coração. 


Ivan Pinheiro.
Assu/RN.